Na época dos Descobrimentos, Portugal foi um dos maiores produtores e exportadores ocidentais de cânhamo. A planta era utilizada para as velas e cordas dos navios.
Hoje, o cânhamo começa a dar os primeiros passos no setor da construção. O primeiro edifício a estrear a inovação é o alojamento local Paraíso 331, localizado no Porto.
"A sustentabilidade do material e o facto de ser ecológico [são alguns dos motivos que que fazem do cânhamo uma nova escolha de material na construção de casas]. Também já tínhamos ouvido falar em termos das suas qualidades de insonorização e que era muito bom em termos térmicos e acústicos", disse, à SIC, o gestor da empresa Lovely Memories, João Santos.
Apesar de pertencerem à mesma família, a planta de cânhamo é prima afastada da canábis, ou seja, não tem fins farmacêuticos.
"O cânhamo industrial, chamemos-lhe assim, serve para fazer roupas, construção civil, óleos, para alimentação. É diferente do cânhamo de farmácia, não há qualquer psicadélico associado ao cânhamo industrial", explicou, em entrevista à SIC, o arquiteto, Francisco Fonseca.
O que distingue o bloco de cânhamo do betão tradicional
"Ele apresenta uma alternativa aos materiais não estruturais, que são os materiais de isolamento, os tijolos cerâmicos, os blocos de cimento que nós encontramos na construção. O cânhamo é, na verdade, o betão de cânhamo, o bloco de cânhamo que é o único material na construção civil que cumpre com os regulamentos térmica, incêndio, acústica, num único material em 25 cm ou 23 cm de parede", acrescentou o arquiteto.
"Falamos de uma planta que faz a reativação, restruturação de solos desertificados, de solos pobres e, portanto, tem uma captação de carbono bastante exuberante", descreveu Francisco Fonseca.
Mas, o investimento é ainda 25% maior do que a construção tradicional. Isto porque não há, para já, produção suficiente em Portugal. Mas, há dois anos uma empresa sediada no Alentejo decidiu renascer o mercado, assente na ideia de que se pode construir uma casa com paredes feitas de natureza.
"Nós este ano vamos ter 100 e poucos hectares de plantação de cânhamo nacional. Vai ser uma experiência para tentarmos perceber a rentabilidade e a melhor forma de o fazermos para que possam no futuro colaborar connosco", disse o diretor operacional da Cânhamor.
Na planta do cânhamo é possível retirar fibra, o linho e a madeira, o material que interessa para construir casas.
O primeiro processo é numa máquina que tritura a planta. Depois, vai para a misturadora, onde a madeira é misturada com cal e argila. Uma massa que demora 10 minutos a ficar pronta e que depois vai dar origem a três blocos de cânhamo.
"É a única fibra vegetal que tem um comportamento com a água absolutamente surpreendente, ela não perde características mecânicas em contacto com a água", explicou o arquiteto Francisco Fonseca.
A nível mundial, a indústria da construção é responsável por 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
Fonte: SicNotícias